terça-feira, 19 de agosto de 2014

Recepção aos Ganeses em Caxias: quando a mediocridade se torna pública


Já diz o ditado que as palavras são como pedras; depois de atiradas não têm mais volta. Não raro que faço de conta que algumas “palavras”  atiradas ao vento por ai,  não me atingem e, assim, embora machucada, permaneço em meu silêncio gritante, sem dizer nada.  Mas existem algumas que, de tão ásperas e nojentas, ao invés de pedras, me acertam como balas de fuzis, e ai, é impossível calar o grito. Pois então, foi assim que me senti  essa semana ao ver a reportagem do programa  “Fantástico” a qual tratava sobre a onda migratória de africanos no Brasil, mais precisamente, em Caxias do Sul, RS.  E, agora, antes de eu “atirar” minhas palavras, quero dizer que não pretendo generalizar  ao manifestar minha mais profunda repugnância àquelas pessoas que  falaram pelos cidadãos de Caxias pois conheço gente muito boa daquela terra. Mas não há humanidade que suporte  calada tanto preconceito, desinformação, desumanidade e mesquinhez vindas de pessoas que abriram o  “esgoto” de seus seres ao falar sobre os imigrantes Ganeses que vieram ao Brasil em busca de trabalho. Sim, os africanos arriscaram suas vidas, deixaram sua terra, suas famílias, seus amores, sua cultura e, se  “atiraram”, no mais incerto desconhecido para BUSCAR UM TRABALHO, digno. Um trabalho que, no Brasil é refugado e não consegue ser preenchido.  Os nossos irmãos africanos vieram do outro continente para buscar um lugar ao sol, honestamente, fato que, em suas terras, marcadas pela corrupção, ditatorialismo e guerras não é possível.  Eles não nos vieram pedir um favor, mas sim, oferecer sua  força de trabalho para ganhar a vida, para sobreviver.  Buscam postos de trabalho, aqui considerados insalubres e de baixa remuneração, mas para eles,  é a única forma de tentar uma vida melhor.
Antes de tudo, os imigrantes que aqui chegam,  deveriam ser admirados pela sua coragem em deixar tudo para trás e, pela sua humildade em se sujeitar a qualquer condição de trabalho pois diga-se de passagem, muitos desses  são qualificados, com curso superior e pós graduação, e aqui trabalham no chão de fábrica , com a maior felicidade.
Mas, o que mais me dilacera o coração é perceber, pela fala dessas pessoas  (que se manifestaram publicamente) na melhor das hipóteses, ignorantes,  a falta de humanidade.  O que esses seres “vomitaram” em rede nacional, legitima um pouco a descrença no ser humano. Ora, pois então as fronteiras geográficas eliminam nossa capacidade de se colocar no lugar do outro?
Que dor senti ao ver o nosso irmão africano, tão feliz ao afirmar que gosta tanto do Brasil porque as pessoas não são preconceituosas por aqui. Mal sabe ele, que pedras ásperas destilam veneno no peito de muita gente.   E além do mais, se já não sobra humanidade em muitos corpos que rastejam por ai, pelo menos um pouco de história deveria fazer conter a insipiente petrificação navalhada que assola  as paredes de suas  almas. Esquecem-se estes incultos  do que é feito o Brasil? Pois lhes digo: de imigrantes, de todos os lugares do mundo que viram nessa terra uma esperança de reconstruir a vida e uma oportunidade para fugir da miséria. O Brasil extenso em suas dimensões geográficas é também, gigante em sua diversidade de povos. Todos nós brasileiros, temos um pé na Africa, outro na Europa, uma mistura de Asia, um pouco de América  e por ai vai.  E se naquela época em que os imigrantes povoaram o Brasil tivessem encontrado almas pequenas como essas de Caxias do Sul, o que seria desse país hoje? Me questiono: onde será que “dorme” a história dessas pessoas que repudiam os Ganeses, Senegaleses, Haitianos?
E ainda, a pergunta que não quer calar: o mesmo tratamento seria dado se estivéssemos vivendo uma onda migratória de europeus, norte-americanos, ingleses? Ou,  será que a face da visualização seria outra? Seriam eles com seus corpos brancos e olhos claros, aclamados e louvados  por vir ao Brasil engrandecer o mercado de trabalho e nos encantar com sua cultura?
Outra:  qual  é o  parecer  quando o caminho de partida é do Brasil em relação aos outros países? Quando  nós brasileiros vamos estudar, trabalhar, aprender uma língua no exterior,  é “chique”, é o máximo e, queremos que todo mundo nos receba bem porque somos do Brasil.  Mas quando o caminho é o inverso, ai a recepção depende da geografia...
Ah, sim, mas é muito mais fácil não olhar trás, nem enxergar o próximo, mas  isolar-se em seu mundinho medíocre e achar que  sua vida não tem nada a ver com a dos outros e, vice e versa, num longo processo de petrificação do ser .
Obs: Saliento aqui que tenho consciência de que o Brasil talvez não estivesse preparado para uma intensa onda migratória , no entanto,  argumentos medíocres devem ser fortemente contestados para que não inspirem mais leviandades.

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