segunda-feira, 6 de maio de 2013

Porque nossa “Polidez” nos Furta o Melhor da Vida

Divagando por minhas memórias, lembrei de uma cena  da minha infância - de muitos anos atrás.


Eu sempre adorei as artes. Amava fazer teatro. E foi numa daquelas simples encenações infantis que presenciei o riso mais puro e mais divertido que já vi e, também aprendi o quanto a alegria está manifestada nas pequenas coisas. Eu e meus coleguinhas encenávamos um casamento caipira na escola, onde toda comunidade participou. E, diga-se de passagem que uma pequena encenação como aquela, naquele lugar isolado, era um grande evento.

Toda a comunidade se aglomerava para nos assistir. Recordo que com a tradicional entrada dos noivos caipiras e o nosso palavreado “caipirês”  o público todo ria. Mas o que me chamou atenção foi o riso solto, alto, feliz e puro de uma mulher “analfabeta” daquele lugar. Ela ria sem parar e, com gargalhadas gostosas, contagiantes, puras. A felicidade transbordava em seu sorriso. Ela ria como nunca mais vi ninguém sorrir, por isso até hoje me lembro.

A alegria do seu riso, refletia também a pureza da sua alma, da sua vida, do seu mundo.  Ela não se importara que seu sorriso se sobressaia e, chamava atenção dos demais, tão menos, que aqueles, por ora, riam da sua forma “aviltada” e “espalhafatosa” de gargalhar. Ela simplesmente deixava se envolver com a profundidade daquele momento na sua vida.  E ria, ria imoderadamente e estrondosamente da nossa pequena encenação caipira.

Hoje, mergulhando no fato – sob a janela de uma grande metrópole - e percebendo tanta falta de sorrisos, de empatia, de gentileza, de alegria nas pessoas ditas cultas e letradas, me questiono se nossa tal “polidez” não nos furtou  nossa essência: a capacidade de nos entregarmos aos momentos, de sentirmos a vida na mais profunda simplicidade, de sermos verdadeiros sem medo de julgamentos, de sermos felizes com a mais “insignificante” das coisas. Enfim, de sorrirmos e vivermos da nossa maneira peculiar de ser.

As vezes acho que, na tentativa de nos polirmos para o mundo, nos involucramos em um embrulho que não condiz com nosso âmago. Nos escondemos no interior de uma casca que nos barra de nós mesmos.  Assim, nosso sorriso fica esmagado dentro daquilo que um dia fomos. No interior desse invólucro, mora um ser sufocado que não pode aparecer, que não pode sorrir verdadeiramente, sentir verdadeiramente, viver verdadeiramente porque tem medo do olhar cruel do mundo.

Pois assim, concluo que, aquela mulher “analfabeta” foi a pessoa mais feliz e mais pura que já conheci, porque nela não havia nenhuma embalagem .