Toda a comunidade se aglomerava para
nos assistir. Recordo que com a tradicional entrada dos noivos caipiras e o nosso
palavreado “caipirês” o público todo
ria. Mas o que me chamou atenção foi o riso solto, alto, feliz e puro de uma
mulher “analfabeta” daquele lugar. Ela ria sem parar e, com gargalhadas
gostosas, contagiantes, puras. A felicidade transbordava em seu sorriso. Ela
ria como nunca mais vi ninguém sorrir, por isso até hoje me lembro.
A alegria do seu riso, refletia
também a pureza da sua alma, da sua vida, do seu mundo. Ela não se importara que seu sorriso se
sobressaia e, chamava atenção dos demais, tão menos, que aqueles, por ora, riam da sua forma “aviltada” e “espalhafatosa” de gargalhar. Ela simplesmente deixava se
envolver com a profundidade daquele momento na sua vida. E ria, ria imoderadamente e estrondosamente da
nossa pequena encenação caipira.
Hoje, mergulhando no fato – sob a
janela de uma grande metrópole - e percebendo tanta falta de sorrisos, de
empatia, de gentileza, de alegria nas pessoas ditas cultas e letradas, me questiono se nossa
tal “polidez” não nos furtou nossa essência: a capacidade de nos entregarmos aos
momentos, de sentirmos a vida na mais profunda simplicidade, de sermos verdadeiros sem
medo de julgamentos, de sermos felizes com a mais “insignificante” das coisas. Enfim,
de sorrirmos e vivermos da nossa maneira peculiar de ser.
As vezes acho que, na tentativa de
nos polirmos para o mundo, nos involucramos em um embrulho que não condiz com nosso âmago. Nos escondemos no interior de uma casca que nos barra de nós
mesmos. Assim, nosso sorriso fica
esmagado dentro daquilo que um dia fomos. No interior desse invólucro, mora um
ser sufocado que não pode aparecer, que não pode sorrir verdadeiramente, sentir
verdadeiramente, viver verdadeiramente porque tem medo do olhar cruel do mundo.
Pois assim, concluo que, aquela
mulher “analfabeta” foi a pessoa mais feliz e mais pura que já conheci, porque
nela não havia nenhuma embalagem .