Essa semana eu queria escrever algo leve, mas, assim como
milhares de pessoas, estou imersa na dor e tristeza, por saber do grito de
socorro, em vão, e da dor de um anjo de quatro patas, que foi covardemente
assassinado, por quem deveria protegê-lo. Pois então, sinto-me quebrada, mais
uma vez. Como mencionei no texto anterior, a gente vive quebrado(a), e se
quebrando a cada dia. Quando acontece algo que comprime nosso coração, e nos
rasga por dentro, a gente se estilhaça. Assim, eu, e outros milhares, quebramos
essa semana com a terrível notícia da morte, covarde, do pobre cãozinho que
vivia no Carrefour, de São Paulo. Esse assassinato não doeu apenas naquele anjo.
Cada paulada atingiu também a nós, que temos empatia, que amamos os animais, e sabemos o quão inocentes, puros , bons e indefesos
eles são. Não, não foi apenas um ser vivo de quatro patas, que sente dor, amor,
fome, sede, que sofreu. Hoje somos milhares, e quem sabe milhões de humanos
brasileiros, que sangramos e sentimo-nos quebrados. Mas que esses estilhaços
nossos, e essa morte não seja em vão! Cada caquinho de nós, caído no chão, há
de se somar a outros, e com nossa força coletiva, derrubarmos o paredão da
impunidade aos maus tratos aos animais nesse país. Aquelas patinhas cruzadas, e
aquele olhar meigo, hão de viver sempre em nosso coração, e serem a marca de uma
nova história para os anjos de quatro patas, que tanto amamos, e muito merecem
nosso respeito. Por enquanto, apenas
resta-me pedir perdão à este anjo. Perdão por pertencer à esta raça tão
medíocre e cruél! Perdão por não estar perto de ti para te salvar! Perdão, perdão,
perdão, anjo de patinhas! Por ti, eu estou sangrando, com meus cacos no chão. Mas
que teu sofrimento não seja em Vão!
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Viver é quebrar-se
Eu amo os textos da jornalista e escritora Eliane Brum. Ela
tem o dom de externalizar, com extrema sensibilidade, e com poesia, a
realidade, as vezes oculta, da vida. Num desses textos, que se chama “ A menina
Quebrada”, ela “usa” a personagem, uma menina de 9 anos, que quebrou uma parte
do corpo, para explicar que todos nós quebramos, principalmente por dentro, e vivemos quebrados, na tentativa de achar um
sentido para seguir em frente. Pois bem, eu também sou convicta disso, e “quebrada”
como sou, complemento que, viver é quebrar-se, tão constantemente que, se
pudéssemos nos enxergar segundo nossas fissuras, seríamos um mosaico, cheio de
ladrilhos, alguns maiores, outros minúsculos, conforme a estrutura emocional de
cada um de nós. Cada quebra, é um
desafio para nossa capacidade de recompor-se, e continuar inteiro(a), mesmo estraçalhado(a),
com mil caquinhos colados. A beleza e
sabedoria desta existência, talvez residam na capacidade de (re)colar-se, e
(re)fazer-se colorido(a), mesmo diante dos inúmeros estilhaços que a vida nos
acomete.
E tem gente que quebra mais, outros, menos. Mas quebrar-se
menos , nem sempre significa recompor-se mais, e com maior intensidade. Há
tombos, como a perda de um familiar, por
exemplo, que isoladamente, são capazes de quebrar-nos, em uma só vez, muito
mais do que nós quebraríamos, com várias outra quedas, por toda a vida. E estes
ladrilhos, com o tempo conseguimos colar, mas jamais serão coloridos. Ademais, há os tombos mais leves, comuns a
quase todos, como uma decepção amorosa, uma perda material, um objetivo não
atingível, uma desilusão com um amigo, uma enfermidade leve, entre outros. Para
essas quebras, o chão será mais sereno, e a recomposição mais bela e rápida, de
acordo com a estrutura emocional de cada um. Compor-se-á mais colorido e
resistente, aquele que souber pegar cada um dos seus estilhaços para fazer uma
base forte, que em uma nova queda, não o afete tanto.
Pois, acredito também, que, erguer-se, e recompor-se em
cores, não deleta da mente a força e o impulso que fez-nos quebrar. Muito me
quebrei, e, muito jovem ainda, em sonhos, em projetos, e pelas ações maldosas
de pessoas, e também, muito renasci, na maioria das vezes, com ladrilhos
coloridos. No entanto, não esqueço, jamais, o que me doeu. O ensinamento, penso
eu, é estar segura para nunca mais deixar-me quebrar pelos mesmos motivos. Ai reside o poder da nossa recomposição, e a
lição de que quase sempre é possível resgatar a cor, em meio à escuridão do
mundo que nos estilhaçou. Atualmente vivo quebrando, mas por outros motivos. Jamais
me meteria nas mesmas emboscadas da vida, que me fizeram fissurar no pretérito.
E o que leva alguém a quebrar-se, não necessariamente é o
mesmo que induz o outro a romper-se. Cada um, no seu íntimo, sabe o que o faz
quebrar, e o que trinca sua estrutura. Aí
depende do quão seguro é o seu chão para suportar determinadas provações
da vida. O que dói mais em ti, não necessariamente será o dolorido em mim, e
vice e versa, porque somos diferentes, em vivências, em relações de todo tipo,
em personalidade. O fato, é que nossa
fragilidade está diretamente ligada à condição humana, assim como nossa
força. Então, nesse dolorido ato de
quebrar-mo-nos que é viver, testaremos dia a dia, nossos cacos frente aos caos
do mundo, ora nos quebrando a nós mesmos, ora, sendo quebrados pelos outros,
ora, pela imprevisibilidade da existência.
O certo de tudo, é que a nossa evolução não aflora senão de
quase sempre, um dolorido processo de intensas fissuras (eu que o diga).
Quebramos tanto, e evoluímos tanto, que por vezes, nesse mosaico que somos, já
nem nos reconhecemos mais, e isso, nem sempre é ruim.
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
Aquele lugar
Quem foi que roubou a margarida branca de mim¿ E os lírios,
ainda orvalhados das manhãs serenas e ensolaradas¿ Aonde foi que terminara, sem que eu me desse
conta, a estradinha de flores, de distintas as cores e diferentes aromas¿ Onde se esconde a sanga mansinha e límpida,
onde eu banhava meus sonhos, e via refletida
a vida, tão doce¿ E o rio, que corria ao ritmo da dinâmica tranquila, do longínquo
lugar, onde tudo também passava devagar ¿
E as árvores magrelas, que me emprestavam seus galhos, para desfrutar do
seu balanço, tão leve, quanto o vento daquele lugar ! Aonde se foram os dias, que afloravam cintilantes ,
sem a pressa de para outro pular¿ Ah, e aquela estradinha, tão estreita e longa ,
que meu corpo magrelo vivia a transitar com os livros . Ah, os livros! Esses
sim, sempre foram, desde sempre, minha inspiração tão peculiar! Por eles, fiz
trilhos e trilhas, desafiei meus medos, desdobrei os mais tortuosos caminhos!
Mesmo na humildade daquela casinha de madeira, nas noites à luz de velas, eu
devorava-os, incansavelmente! E assim, a vida começou a tomar outra engrenagem!
O meu andar já perpassava o ritmo daquele pacato e sereno lugar, sem que eu pudesse
notar. Os livros foram a alavanca, que me fizeram,
inconscientemente, começar a achar pequenos demais aqueles amanheceres. As
margaridas, os lírios, a sanguinha, o rio,e quase tudo de lá, aos poucos ,
foram cedendo espaço aos sonhos, que as páginas me proporcionavam. E assim, sem
que eu vislumbrasse a velocidade e fugacidade do tempo, os livros me tiraram de
lá. Então, o meu mundo já se norteava
pela égide de outras páginas, mais exatas, menos coloridas, bem mais tensas,
por sinal! E à luz dos novos sonhos,
ficou esquecida a antiga vida! Hoje, depois de anos do descortinar desse novo horizonte, me indago, aonde foi que ficaram
as flores, as árvores, a estradinha, do interior da minha infância, e de repente,
percebo que eu que as roubei de mim mesma, na ilusão de um outro universo, que
agora me questiona aonde foi parar a beleza e a simplicidade da vida.
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