quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Aquele lugar

Quem foi que roubou a margarida branca de mim¿ E os lírios, ainda orvalhados das manhãs serenas e ensolaradas¿  Aonde foi que terminara, sem que eu me desse conta, a estradinha de flores, de distintas as cores e diferentes aromas¿  Onde se esconde a sanga mansinha e límpida, onde eu banhava meus sonhos, e  via refletida a vida, tão doce¿ E o rio, que corria ao ritmo da dinâmica tranquila, do longínquo lugar, onde tudo também passava devagar ¿  E as árvores magrelas, que me emprestavam seus galhos, para desfrutar do seu balanço, tão leve, quanto o vento daquele lugar ! Aonde  se foram os dias, que afloravam cintilantes , sem a pressa  de para outro pular¿  Ah, e aquela estradinha, tão estreita e longa , que meu corpo magrelo vivia a transitar com os livros . Ah, os livros! Esses sim, sempre foram, desde sempre, minha inspiração tão peculiar! Por eles, fiz trilhos e trilhas, desafiei meus medos, desdobrei os mais tortuosos caminhos! Mesmo na humildade daquela casinha de madeira, nas noites à luz de velas, eu devorava-os, incansavelmente! E assim, a vida começou a tomar outra engrenagem! O meu andar já perpassava o ritmo daquele pacato e sereno lugar, sem que eu pudesse notar.  Os livros foram a alavanca, que me fizeram, inconscientemente, começar a achar pequenos demais aqueles amanheceres. As margaridas, os lírios, a sanguinha, o rio,e quase tudo de lá, aos poucos , foram cedendo espaço aos sonhos, que as páginas me proporcionavam. E assim, sem que eu vislumbrasse a velocidade e fugacidade do tempo, os livros me tiraram de lá. Então, o meu mundo  já se norteava pela égide de outras páginas, mais exatas, menos coloridas, bem mais tensas, por sinal!  E à luz dos novos sonhos, ficou esquecida a antiga vida! Hoje, depois de anos do descortinar desse novo horizonte, me indago,  aonde foi que ficaram as flores, as árvores, a estradinha, do interior da minha infância, e de repente, percebo que eu que as roubei de mim mesma, na ilusão de um outro universo, que agora me questiona aonde foi parar a beleza e a simplicidade da vida.

2 comentários:

Camile disse...

Que texto lindo! Fez relembrar de muitas coisas que vivi na infância.
Passou várias lembranças lindas, guardadas com muito orgulho em meu coração.
Parabéns Fabi, vou ler e compartilhar muito!!!

Fabiane Altíssimo disse...

Muito obrigada, Camile! Fico muito feliz com teu feedback! De fato, a infância é o "lugar" onde a nossa vida sempre irá voltar, para buscar referências, vivências e aconchego! Muito obrigada por me acompanhar! Beijos