Quem foi que roubou a margarida branca de mim¿ E os lírios,
ainda orvalhados das manhãs serenas e ensolaradas¿ Aonde foi que terminara, sem que eu me desse
conta, a estradinha de flores, de distintas as cores e diferentes aromas¿ Onde se esconde a sanga mansinha e límpida,
onde eu banhava meus sonhos, e via refletida
a vida, tão doce¿ E o rio, que corria ao ritmo da dinâmica tranquila, do longínquo
lugar, onde tudo também passava devagar ¿
E as árvores magrelas, que me emprestavam seus galhos, para desfrutar do
seu balanço, tão leve, quanto o vento daquele lugar ! Aonde se foram os dias, que afloravam cintilantes ,
sem a pressa de para outro pular¿ Ah, e aquela estradinha, tão estreita e longa ,
que meu corpo magrelo vivia a transitar com os livros . Ah, os livros! Esses
sim, sempre foram, desde sempre, minha inspiração tão peculiar! Por eles, fiz
trilhos e trilhas, desafiei meus medos, desdobrei os mais tortuosos caminhos!
Mesmo na humildade daquela casinha de madeira, nas noites à luz de velas, eu
devorava-os, incansavelmente! E assim, a vida começou a tomar outra engrenagem!
O meu andar já perpassava o ritmo daquele pacato e sereno lugar, sem que eu pudesse
notar. Os livros foram a alavanca, que me fizeram,
inconscientemente, começar a achar pequenos demais aqueles amanheceres. As
margaridas, os lírios, a sanguinha, o rio,e quase tudo de lá, aos poucos ,
foram cedendo espaço aos sonhos, que as páginas me proporcionavam. E assim, sem
que eu vislumbrasse a velocidade e fugacidade do tempo, os livros me tiraram de
lá. Então, o meu mundo já se norteava
pela égide de outras páginas, mais exatas, menos coloridas, bem mais tensas,
por sinal! E à luz dos novos sonhos,
ficou esquecida a antiga vida! Hoje, depois de anos do descortinar desse novo horizonte, me indago, aonde foi que ficaram
as flores, as árvores, a estradinha, do interior da minha infância, e de repente,
percebo que eu que as roubei de mim mesma, na ilusão de um outro universo, que
agora me questiona aonde foi parar a beleza e a simplicidade da vida.
2 comentários:
Que texto lindo! Fez relembrar de muitas coisas que vivi na infância.
Passou várias lembranças lindas, guardadas com muito orgulho em meu coração.
Parabéns Fabi, vou ler e compartilhar muito!!!
Muito obrigada, Camile! Fico muito feliz com teu feedback! De fato, a infância é o "lugar" onde a nossa vida sempre irá voltar, para buscar referências, vivências e aconchego! Muito obrigada por me acompanhar! Beijos
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