segunda-feira, 19 de maio de 2014

O que o Linchamento em Guarujá Denuncia sobre o Território Digital


     Diante de tantos acontecimentos oriundos da ainda recente comunicação e inclusão  digital, não sei o que me assusta mais: se a crise e “fraqueza” das fontes ou, se a “cegueira” dos internautas. Mas hoje vou me deter em comentar sobre a segunda situação.
     Com a era digital, na minha percepção, em muitos sentidos voltamos à comunicação de massa e de multidão. Sim, aquela que nós comunicadores tanto estudamos e debatemos nos bancos da faculdade pensando que era coisa do passado pois afinal,  no século XXI estávamos na era da  comunicação dirigida, segmentada, personalizada, onde cada indivíduo é único,  tem seus próprios costumes, hábitos, pensamentos e não é facilmente influenciável.
     Pois muitos aspectos da informação/comunicação que vemos na internet são a antítese do nosso sonho de um consumidor/público consciente, distinto e “pensador”.  Para contextualizar isso, é importante salientar que a  “massa”, pode ser ilustrada como um grande público homogêneo, onde as pessoas “recebem” as mensagens e as aceitam sem questionar e interagir, cada uma, em sua própria realidade. Já, a multidão, poderíamos dizer que é essa mesma massa “homogênea” só que, reunida, onde um influencia o outro. Ou seja, se sou massa, me influencio apenas pelo emissor da mensagem/noticia/informação (fonte), mas se sou multidão, logo, sou influenciado pela atitude daquele(s) que está(ão) ao meu lado e, nem questiono se ela é correta ou não, enfim, ajo pelo impulso do(s) outro(s).
   São inúmeros os casos nesse sentido, que se desdobram diariamente no território digital. No entanto, o mais chocante e, elucidativo da questão, foi o linchamento coletivo de Guarujá, fruto de um boato espalhado em uma Fan Page chamada “Guarujá Alerta”. Vimos se configurar ali, exatamente a noção de massa e multidão. De massa: quando o público recebe a mensagem, não questiona, mas acredita e replica. De multidão: quando ele é influenciado pelos outros e parte para a ação coletiva, sem consciência do que está fazendo e, agindo de forma diferente daquela que agiria se estivesse só ( se não estivessem em grupo, aquelas pessoas teriam linchado a mulher, suposta sequestradora de criancinhas?).
      O caso é um retrato de que a democratização digital chegou antes do espirito crítico e da consciência reflexiva no Brasil. Que bom que o acesso à internet e ao computador chega com força no país, no entanto, penso que quão ótimo seria se, nessa mesma velocidade, viesse o desenvolvimento do pensamento crítico. E aqui, nem menciono o fator “educação de excelência/ ensino superior” pois tenho visto muita gente com diploma de terceiro grau (que não aprendeu a pensar),  agir como “massa e multidão” ao aceitar, replicar, compartilhar, curtir inverdades vindas de fontes incertas.
      E assim, segue a “boiada virtual” puxando as carroças pesadas de ideologias e ás vezes, cometendo injustiças brutais como foi com Fabiane Maria.

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