Nada era como parecia naquele lugar. Tudo possuía uma dolorida, profunda e indesejável verdade oculta, que ninguém queria ver. Embora o vento soprasse a brisa calma do interior, e trouxesse às narinas o perfume doce dos lírios, a vida, nas suas profundezas, tinha o amargor do fel.
Aos olhos desconhecidos, tudo transparecia tão óbvio: uma existência muito simples, mas feliz. Porém, nada era como parecia.... A alma doía, porque quando ela é espremida, não há sorriso, nem brisa, nem o cheiro abaunilhado dos lírios que possam camuflar a dor e transformar em alegria. E quando se trata de uma criança, para a qual é preciso tão pouco para ser feliz, sentir o coração sangrar, dia a dia, sem socorro, é ter arrancada toda a magia da vida, aos poucos.
Era assim naquele tempo e lugar. Haviam flores, mas viver não era belo, nem colorido de sonhos. Havia a calmaria do longínquo lugarzinho do fim do mundo, porém, o coração era agitado de dilacerações constantes. Havia a doçura das frutas colhidas no pé, no entanto, a alma amargurava de tristeza. Havia a sanga e o rio transparentes, que corriam calmos e contornavam suavemente os obstáculos do caminho, contudo, as pernas tremiam de medo da turbulência daquela existência.Havia o canto alegre dos pássaros, porém, a felicidade era reprimida naquele coração.
Por trás das sardas
salientes, da cara angelical e da franja mal cortada, existia uma
cortina densa de temor, da violência psicóloga, moral e física. Havia
tudo de belo lá, menos amor, e isso, era suficiente para nada haver. E
mais triste, é que todos de perto sabiam, mas fingiam não ver.
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