Amo rodear-me de plantas, porque elas são profundamente terapêuticas, simbólicas, lindas, mas mais do que isso, porque diariamente me ensinam sobre a arte de viver. A intensa semelhança entre nós humanos , e elas, as plantas, reside na complexidade que é existir e nutrir-se , constantemente, sob a égide dos mais diferentes tempos e circunstâncias.
Num tear mágico de fertilidade, a gente nasce, e tal qual as plantas, por vezes em solo fértil, por outras, em terreno árido. Precisamos aprender, a nutrirmo-nos das melhores substâncias encontradas ali, embora , nem sempre são as ideais. A beleza e peculiaridade de cada um, reside no fato de ser flor, com as características de quem se adaptou e nutriu-se do lugar, seja ele o deserto, ou o solo adubado que desde cedo encontrou.
E a ventania inevitável da vida vem, com o gingado assimétrico das estações indefinidas, às vezes, com chuva intensa de pedras, por outras, com sol escaldante, que derrete até o pólen. Assim, é nossa complexa existência, e desta forma, também é a das plantas. E embora elas, algumas vezes, percam até o caule, renascem ainda mais belas e definidas, em outra estação.
A nossa vida, tal qual elas, se guia e gira pela dança constante do sopro dos ventos. Tem dias que a calmaria, com maestria, rege nosso existir, numa doce sinfonia. E a gente sorri, e sai florindo por ai. Entretanto, de uma hora para outra, vem a ventania e desfolha-nos, desnuda-nos, arranca nossas certezas, construções e convicções existenciais, evidenciando a fragilidade de todo o belo e de toda a vida.
Mas apesar de tudo, é preciso resistir e seguir. Porque a vida e o tempo não nos dão opções, senão renascer e reconstruir-se, ou enterrar-se e morrer. Então a gente descobre a preciosidade e a força de nossas raízes, sobre as quais, talvez ainda não havíamos parado para pensar , afinal , não estavam evidentes, neste mundo de aparências.
E aprendemos, que podemos renascer e (re)significarmo-nos, ainda mais que antes, quando somos sustentados por raízes resilientes, fecundas de princípios e valores, que nos farão vislumbrar , sempre, uma nova oportunidade para folhar e florir. Porque a vida é começo e recomeço, e existir com a experiência de quebrar-se e renascer, é ainda melhor do que saber apenas viver sem partir-se.
Assim, a gente descobre que a ventania que nos desfolhou e "desfloriu", também já espalhou nossas sementes por ai.
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